Valerá a pena olhar
para os resultados das comparações nacionais e internacionais que apareceram
nos últimos meses? Tal como no desporto, o tempo dedicado à discussão da tabela
de pontuação varia diretamente com a posição da equipa preferida. No caso do
PISA, os maus resultados têm servido de sinal de alarme em muitos países que
não imaginavam ser possível ficar na posição apresentada pela OCDE. De três em
três anos a reflexão repete-se e as consequências políticas são visíveis. Para Portugal, o progresso regular desde 2000 tem sido motivo de alento e até de celebração. No
caso espanhol, por exemplo, o Diretor de Educação da OCDE, Andreas Schleicher,
diz que se terão concentrado em legislar,
deixando de lado a qualidade do ensino. Os rankings portugueses baseiam-se nos resultados dos exames
nacionais. Os estudos internacionais baseiam-se em testes especiais menos
dependentes dos conhecimentos dos alunos porque são aplicados a muitos países e
não há um currículo comum. Qualquer destes exercícios acompanha as métricas da
aprendizagem dos alunos de dados de contexto para permitir uma melhor
apreciação dos resultados. De facto, é bem sabido que o desempenho escolar
depende muito do contexto socioeconómico dos alunos. Dos sete países de tradição
cultural oriental presentes no estudo da OCDE, só dois (Tailândia e Vietnam)
não aparecem entre os dez países (ou territórios) no topo do PISA. A despesa
por aluno ou a dimensão das turmas é menos importante do que o ambiente
familiar. Mas o nosso dever é procurar ajustar os fatores externos que podem
permitir melhorar o desempenho dos estudantes e prepara-los melhor para uma
vida futura num ambiente imprevisível e certamente de mudança.
Portugal tem
apresentado melhorias consideráveis nas comparações internacionais. O ambiente
familiar deve ser um fator a ter em conta porque a generalização da educação
para além do 1º ciclo só foi feita a partir do início da década de 1970 e terá
tido efeitos sobre a geração seguinte dos alunos nascidos a partir do fim do
século. Este fator de “capital educativo” das famílias pode ser importante, mas
temos de acreditar que o esforço individual dos alunos e dos seus professores
também se reflete nos resultados. E as políticas educativas que enquadram esse
esforço são o único agente de mudança em que, como sociedade, podemos atuar.
A riqueza de
informação anualmente disponibilizada pela Direção Geral de Estatísticas
de Educação e Ciência chega ao público através de uma série de rankings que
não fazem justiça ao trabalho dos professores e das escolas. Em particular, o
novo indicador de progressão calculado escola a escola para o Português e a
Matemática permite analisar em grande detalhe o esforço feito por alunos (e
famílias) e por professores (e escolas) para melhorar o desempenho na passagem
do 9º ano para o 12º ano. Sabemos que os exames finais do 12º ano são vistos
como determinantes do futuro dos alunos que pretendem prosseguir educação
superior e são por isso levados muito a sério. Para muitos alunos, a pressão
familiar é enorme, mas o trabalho na sala de aula é determinante e estes
microdados devem permitir analisar o efeito desse trabalho a um nível quase
individual. Este indicador de progressão agora disponibilizado merece mais
atenção. A comparação dos resultados em contexto permite atenuar alguns dos
efeitos exteriores à escola (mas não estão ainda disponíveis para as escolas
privadas).
José Ferreira Gomes
Editor-chefe Revista de Ciência Elementar
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