sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Somos academia

(A) Terá a crise COVID posto a nu algumas fragilidades do Ensino Superior?

  • O Ensino Superior portou-se muito bem, a experiência foi positiva.
  • No Básico e Secundário, a narrativa do sucesso é falaciosa. Temos aí problemas tremendos. Temos muito a repensar, também porque o problema é mais complicado.



(B) Como gere o conflito entre o homem da universidade e de membro do governo?
  • O país é pobre e tem empobrecido nos últimos decénios e por isso são compreensíveis as restrições ao financiamento e dificuldade de concorrer internacional. Não se compreende que as propinas tenham baixado nos anos mais recentes. Não se compreende que se dispense a receita das propinas. 
  • Nos Estados Unidos, as propinas são altas, mas cerca de 1/3 dessa receita é reciclada pela universidade na forma de bolsas para os alunos mais carenciados.
  • As Universidades têm feito um bom trabalho com o baixo financiamento que recebem.
  • Devemos distiguir entre Autonomia e Autarquia e a defesa da autonomia universitária ronda frequentemente a aspiração à autarquia. Na minha opinião, a universidade deve gozar de Autonomia porque esta torna a gestão mais eficiente e eficaz. Esta realidade foi constitucionalizada em Portugal e também na Espanha porque as nossas constituições foram feitas numa época em que todos os países europeus caminhavam para a autonomia das suas universidades pelas razões técnicas que apontei.

(C) Faz hoje sentido a existência de um sistema binário de ensino superior?
  • A ideia de termos dois sub-sistemas tinha as suas virtualidades.
  • Como é que a missão diferente que foi atribuída às instituições foi cumprida? Houve derivas dos dois lados e o estado não foi capaz de forçar o cumprimento da missão atribuída.
  • Todos defendemos mais autonomia com uma auditoria a posteriori, mas em Portugal nem se faz auditoria séria nem se penaliza quem não cumpre.
  • Hoje não estou certo de que haja vantagem em gerir como sistema binário.
  • Os estatutos de carreira docentes de 2009 deram a pancada final na morte do sistema, porque uma carreira quase única não é compatível com um sistema que se pretende binário.
  • O importante é que haja uma diferenciação forte e maior do que a atual nos cursos oferecidos À população.

(D) Será importante olhar para as famílias e para esta ação social?
  • Sim, seguramente. Se o financiamento do Ensino Superior é baixo, o apoio social é muito baixo.
  • A FAP tem historicamente capacidade para fazer melhores documentos que o CRUP.

Entrevista de Ana Rita Basto para o programa Somos Academia do Porto Canal (gravada a 27 de agosto de 2020) com Marcos Teixeira (Pres. FAP), António Sousa Pereira (Reitor UPorto) e eu próprio.







COMO VAMOS VIVER COM OS CORONAVÍRUS? E DAQUI A 10 ANOS?

 


Dizem-nos que nenhum especialista ficou surpreendido, que tudo isto estava nos livros. Mas a verdade é que também ninguém tinha uma resposta preparada. Com pequenas variações, todos os estados seguiram estratégias que, seis meses depois, não querem repetir. Explicam-nos que se aprendeu muito sobre este vírus, mas esta justificação é muito curta.

A humanidade não é capaz de se preparar para acontecimentos raros, sejam sanitários sejam telúricos ou climáticos. A explicação benigna é que é demasiado caro estar preparado para todas as eventualidades. A interpretação alternativa é que a política vive no curto prazo, quando não no curtíssimo prazo e, neste horizonte, não interessam as surpresas. Quando ocorram todos as aceitarão como imprevisíveis. Assim foi no caso presente.

Daqui a 10 anos, este drama terá passado e tenho que as sequelas estarão curadas. De novo, não estaremos preparados para o que venha a seguir. Mais do que a natureza, receio os homens (e as mulheres). Esta experiência parece-se demasiado com uma enorme manobra militar e muitos estarão a aprender como tirar daqui uma vantagem potencial. Sim, é assustador quão simples isto pode vir a transformar-se numa nova forma de guerra. Todos sabíamos que a guerra biológica estava nos arsenais de muitos, mas ninguém tinha feito um tal ensaio geral. Está e provou a sua eficácia.

Um Portugal de 10 milhões estava mal preparado e assustou-se com a ameaça de nos termos de haver sozinhos com o problema. Temos bastante a aprender e a melhorar na nossa organização social e política. Temos de ser mais competentes.


 em 11 de setembro de 2020

Escrito a pedido do Centro de CIência Viva de Estremoz