A vida dentro das escolas vai mudar, mas não podemos fingir que o problema termina nos santos populares. A improvisação em curso [no ensino a distância] levará a uma muito útil terapia ocupacional ou, numa visão negativa, a uma simples terapia homeopática.
Não, decididamente, os exames não são o objetivo primeiro da escola, são antes um instrumento indispensável para disciplinar e guiar a aprendizagem dos alunos e para monitorizar a eficácia da escola. O governo surpreende: depois de cinco anos a demonizar os exames escolhe agora os exames do secundário (e as férias) como objetivos primeiros e únicos da saída do confinamento a que a COVID-19 nos condenou.
A grande maioria dos professores tem feito um enorme esforço de conversão para o ensino a distância com muitas horas de trabalho invisível. Mesmo para jovens adultos (no ensino superior), o ensino a distância tem progredido lentamente em todo o mundo, sendo preferido o modo misto (ou blended learning) porque a componente social (presencial) da aprendizagem é importante para além do natural desenvolvimento da personalidade. Para as crianças e os mais jovens, ninguém recomenda a passagem total à distância. Para estes, a improvisação em curso levará a uma utilíssima terapia ocupacional ou, numa visão negativa, a uma simples terapia homeopática.
Nas próximas semanas, vamos certamente incorporar-nos na onda europeia de saída do confinamento porque o perigo de escalada exponencial do surto epidémico está muito atenuado (pelo menos temporariamente) e a economia não aguentaria muito mais. Estamos a caminho de uma cura mais mortífera que a doença.
A vida nas escolas não será como dantes, mas alunos, professores e funcionários adaptar-se-ão rapidamente. As férias poderão ser encurtadas ou adiadas. Sim, o problema não fica resolvido com exames mais apressados e tele-avaliações para aqueles que se prestem ao tele-contacto ou decisões administrativas para os outros. Temos de estar preparados para a eventualidade de o próximo ano escolar ser tanto ou mais afetado que este e garantir que não perdemos estas gerações. A vida dentro das escolas vai mudar, mas não podemos fingir que o problema termina nos santos populares.
O acesso ao superior é importante para alunos e famílias. (O governo vê o enorme problema político que pode explodir-lhe nas mãos!) Nenhum país renunciou ao seu sistema de acesso e temos de fazer os exames terminais. Ajustando as datas e os formatos, tudo indica que será possível sem renunciar a uma preparação presencial mínima de seis semanas para todos os alunos. Mas não esqueçamos as outras crianças e jovens. E os seus pais.
José Ferreira Gomes
16 de abril de 2020
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