TRÊS PERGUNTAS A JOSÉ
FERREIRA GOMES
“Politécnicos de Lisboa e
Porto não estão a cumprir a sua missão”
O ex-secretário de Estado do Ensino Superior José Ferreira Gomes critica
os dois maiores institutos do país por não terem apostado nos cursos técnicos
superiores profissionais (TeSP), lançados por si em 2014. As mudanças
introduzidas pelo actual Governo também lhe merecem reservas. Estes cursos não
podem ser ‘desnaturados’, avisa.
Qual é a mais-valia de um
curso TeSP para os estudantes? Será a alta empregabilidade destes cursos.
Ainda não a conseguimos avaliar, porque os TeSP estão ainda no seu início, mas
nestes cursos um aluno sai mais rapidamente para o mercado de trabalho e com
uma garantia de emprego muito mais alta do que a de um licenciado. Isto
acontece porque estes cursos estão muito sintonizados com o mercado de trabalho
local. Por outro lado, o ensino secundário tornou-se obrigatório e, dentro de
pouco tempo, 30 a 40% dos estudantes que terminam o secundário terão feito um
curso profissional. Pela natureza dos seus percursos, nem todos estes alunos
vão querer fazer uma licenciatura. Os TeSPp são uma solução excelente para
aqueles que terminam o ensino profissional e querem ir um pouco mais longe. Um
curso profissional prepara para um posto de base no mercado de trabalho,
enquanto o TeSP prepara para uma posição de direcção intermédia.
Era possível ter feito as
coisas de forma diferente para evitar o arranque a “meio-gás” dos Tesp em
2014/15? O decreto-lei foi aprovado com algum atraso, mas também houve — e ainda
há — resistências de algumas instituições. O número de inscritos que agora é
conhecido é excelente e vai ao encontro do que tínhamos projectado, que são
cerca de 10 mil diplomados por ano. Mas este número podia ser maior. Lisboa e
Porto são as duas cidades onde se concentra a maior parte da procura no ensino
superior, mas onde, nos TeSP, a oferta se centra quase só nas instituições
privadas. Os politécnicos de Lisboa e Porto [o do Porto tem TeSP fora da
cidade, no pólo de Felgueiras] não estão a cumprir a sua missão como
instituições públicas. Quando o fizerem, os números serão ainda melhores.
O actual Governo facilitou
o acesso dos diplomados dos TeSP a uma licenciatura. Concorda com a mudança? É uma alteração que pode
desnaturar estes cursos. Os TeSP não devem ser vistos pela população como uma
ponte para o ensino superior. Se assim for, perdem a sua natureza e torna-se
pouco útil o estágio que faz parte da formação e que serve para a aproximação
do estudante com o mercado de trabalho. É correcto que um estudante que termina
um TeSP possa passar a uma licenciatura, mas tornar isso o normal é mau. Por um
lado, nem todos estes estudantes vão estar devidamente preparados para entrar
numa licenciatura, e, por outro, a sociedade portuguesa precisa destas
qualificações intermédias. Se visse passar mais de 20% dos diplomados dos TeSP
para licenciaturas, seria motivo de preocupação.
Sem comentários:
Enviar um comentário