domingo, 25 de julho de 2021

EXPERIMENTACIÊNCIAS

Prefácio do manual com atividades experimentais para o 1º ciclo

Este livro destina-se aos professores de 1º ciclo das escolas portuguesas. Apresentam-se 16 atividades experimentais desenhadas para alunos do 3º e 4º anos de escolaridade com o objetivo de os iniciar numa postura de indagação experimental. Utilizam-se materiais muito fáceis de encontrar e estudam-se situações do dia a dia dos alunos. Essencialmente, pretende-se que os jovens alunos ensaiem o método científico de colocar questões, que se habituem a compreender melhor a natureza através de um questionamento sistemático. O livro está desenhado de modo a que um professor de primeiro ciclo possa organizar sessões experimentais com as suas turmas recorrendo a materiais correntes. Todas as atividades foram testadas com muito sucesso para assegurar um efeito motivador sobre os alunos, tocando temas muito diversos da sua experiência quotidiana. O professor encontrará aqui todas as indicações para montar a atividade e envolver todos os alunos da turma nas manipulações propostas.

Reúnem-se aqui as atividades executadas no projeto ExperimentaCiências em todas as turmas do primeiro ciclo do município de Penafiel nos anos de 2018/19/20/21/22 na sequência de um contrato entre a CIM do Tâmega e Sousa e o ICETA (Universidade do Porto) representando o consórcio entre a Casa das Ciências e a Faculdade de Ciências. O José Alberto Ferreira organizou e redigiu este manual usando as propostas e os textos dos professores e investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Fernando Tavares, Paulo Simeão de Carvalho, Carla Morais, Ana Rita Mota, Ana Sofia Martins, José Luís Araújo e Alexandre Lopes Magalhães. A toda esta vasta equipa se devem as ideias e a escolha dos materiais mais simples que permitissem atingir os objetivos propostos.

No quadro escolar do primeiro ciclo, estas atividades estão enquadradas no “Estudo do Meio”. Optamos por uma leitura muito aberta dos objetivos propostos para esta área disciplinar e não tentamos satisfazer todos os temas sugeridos nos normativos emanados pelo Ministério da Educação. Imaginando-se que o professor irá utilizar mensalmente uma das propostas deste manual, poderá cumprir os objetivos oficialmente propostos e ainda motivar e alertar os alunos para uma postura de questionamento do mundo físico que nos rodeia através da execução e interpretação de experiências estruturadas.

As propostas apresentadas foram concebidas para alunos do 3º e 4º anos de escolaridade, numa idade em que a manipulação fina e o interesse pelo meio estão bastante desenvolvidos e a curiosidade pela observação e compreensão atingem o máximo. Espera-se, naturalmente, que o professor selecione e adapte as atividades à sua turma pelo conhecimento das personalidades dos alunos e da sua experiência no meio social em que estão a crescer.

A ciência, tal como se entende e se desenvolveu desde o século XVII, procura aprofundar progressivamente a nossa compreensão do mundo físico que nos rodeia. A conceção de experiências relevantes e a sua interpretação bem refletida são os instrumentos de que dispomos para esse fim. Se em épocas anteriores a especulação filosófica era tida como instrumento principal do intelecto humano, o método científico veio a afirmar-se progressivamente pela humildade dos pequenos passos que cada observação permitia dar e pela disponibilidade permanente para aceitar que observações futuras pudessem permitir uma compreensão mais profunda ou mesmo corrigir erros de interpretação do que era observado em cada época. De facto, a ciência depende da aceitação de que a experimentação, isto é, a observação bem estruturada, é o teste à validade das hipóteses de interpretação do comportamento da natureza.

No desporto, sabemos que o maior campeão de uma modalidade pode ser sempre superado nos seus resultados por um desconhecido que se vai afirmar como referência de uma nova geração. A rotina da ciência é semelhante. Em cada época, são celebrados aqueles que conseguiram pela sua reflexão sobre a observação da natureza dar passos relevantes no aprofundamento da nossa compreensão. São heróis respeitados por toda a comunidade, mas estão permanentemente expostos a que algum desconhecido venha demonstrar o erro ou a limitação das suas interpretações. A ciência faz-se de sucessivas camadas de compreensão. Cada avanço define um novo nível, uma nova camada de conhecimento e de compreensão do mundo físico, mas abre também novas questões que precisam de resposta. É esta postura de segurança e humildade que procuramos inculcar nos nossos jovens alunos de 1º ciclo. Por um lado, dizer-lhes que também eles podem fazer observações relevantes para atingirmos um novo de compreensão; por outro, alertá-los para a fragilidade de todo o conhecimento que sempre pode ser aperfeiçoado ou aprofundado. A todos os que contribuíram para o sucesso deste projeto ExperimentaCiências e para a conceção das 16 atividades aqui apresentadas, o meu muito obrigado e os votos de que muitos mais professores possam testar e aplicar estas propostas. Sei que se sentirão compensados se isso acontecer e se as ideias aqui propostas forem melhoradas e, eventualmente corrigidas. O desígnio de todo o cientista é que os seus resultados sejam replicados e eventualmente corrigidos. Que muitos professores portugueses venham a contribuir para que mais e melhores experiência sejam propostas aos mais novos.

O projeto ExperimentaCiência e a produção deste livro beneficiou ainda do trabalho dedicado do Gabinete da Casa das Ciências sediado na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. À Alexandra Coelho, ao Guilherme Monteiro e ao Raúl Seabra, o meu muito obrigado. Finalmente uma palavra para o Conselho Editorial da Casa das Ciências com professores das universidades do Porto, de Aveiro, de Coimbra e de Lisboa que, graciosamente, trabalham há 13 anos para o sucesso da Casa.

José Ferreira Gomes,
Coordenador da Casa das Ciências, 2008-2021

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