sábado, 12 de outubro de 2019

Que estudam os nossos jovens


Editorial

Nos últimos 20 anos, temos feito um enorme esforço para manter na escola todos os jovens até aos 18 anos. De facto, a taxa de abandono escolar precoce estava próxima dos 50% no início do século e baixou de forma sustentada até perto dos 10%, o alvo proposto para 2020. Isto exigiu um enorme trabalho das escolas e uma notável capacidade de adaptação dos professores. A população escolar é hoje diferente daquela que estava nas escolas e aceita desafios muito diferentes. A insistência na via escolar única, a “liceal”, era rejeitada por muitos que não se sentiam acolhidos e abandonavam a escola. O quadro seguinte apresenta o nível educativo da população de 25 a 29 anos dos diferentes países europeus, segundo o Eurostat com dados dos censos de 2011. (O nível 3-4 corresponde ao secundário e o nível 5- 8 ao TeSP, licenciado, mestre e doutorado.)


Portugal (e Espanha) estava(m) ainda longe da média da União Europeia com um enorme excesso de população não qualificada. Os níveis 3-4 têm de ser reforçados, especialmente as vias profissionalizantes do secundário. Note-se que países como a Espanha e a França têm uma forte presença do nível 5 (TeSP em Portugal) que explica a alta taxa de qualificação superior. Os perfis educativos com forte componente científica são a base para as qualificações profissionais técnicas que são as mais procuradas no mercado de trabalho ao nível 4 (secundário profissional) ou a um nível superior. A desejada transformação da nossa economia com o reforço da produção de bens transacionáveis (exportações) exige uma melhor qualificação técnica dos mais jovens e uma aproximação entre os seus percursos educativos e os setores mais dinâmicos da economia, especialmente das empresas das suas regiões. Isto traduz-se num esforço adicional das escolas e dos professores para encontrarem os nichos de educação e formação mais relevantes para cada um dos seus alunos.
A diversificação dos percursos educativos, especialmente ao nível secundário exige um esforço adicional para a proposta de estratégias de aprendizagem e dos próprios objetivos na matemática e nas ciências. A tradicional “dificuldade” de muitos alunos pode resultar do desajuste entre os seus objetivos e a proposta dos programas e do professor. Em comparação internacional, temos feito progresso na matemática (em jovens de 15 anos, exercício PISA da OCDE). Na generalidade dos países, os objetivos propostos para o secundário em matemática e ciências variam muito conforme a via escolhida pelos alunos. Entre nós este caminho foi iniciado com perto de 50% dos jovens a escolherem a via mais académica (cientifico-humanística) que é fortemente regulamentada e merece toda a atenção pública e política. As vias profissionais deveriam merecer a mesma atenção, quer pelos muitos jovens cujo futuro depende do trabalho aí feito, quer pelo impacto social e económico da formação profissionalizante que aí devem receber.

José Ferreira Gomes
Editor
Editorial da Revista de Ciência Elementar, Vol. 7, nº 3, setembro/2019

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