Resumo
Portugal atrasou-se imenso na criação de um ensino secundário profissionalizante e ainda hoje há deficiências notórias. A participação é baixa e a qualidade talvez se ressinta de não haver padrões nacionais de avaliação e de comparação. Só em 2014 foi criado o ciclo curto de ensino superior, TeSP, Técnico Superior Profissional, que está a crescer a muito bom ritmo, mas ainda sofre do grande atraso histórico.
O programa de
austeridade decorrente do pedido de ajuda financeira à Troika levou o
desemprego a subir até ao máximo de 16,2% em 2013 para voltar aos 11,1% em
2016. Simultaneamente, o desemprego jovem (menores de 25 anos) subiu até 38,1%
e não foi abaixo dos 28% em 2016. Os graduados pelo o ensino superior também
foram atingidos, ainda que em menor grau.
Estes resultados
merecem alguma reflexão. Em primeiro lugar, o choque de haver algum desemprego
de graduados. Depois, o facto de o diploma do secundário (ou do pós-secundário,
CET, Curso de Especialização Tecnológica) já não oferecer a desejada garantia.
Independentemente da leitura que queiramos fazer e da dificuldade resultante da
falta de dados mais desagregados por tipo de educação-formação, um facto é
iniludível: Temos um desajuste entre a oferta e a procura de competências.
Portugal atrasou-se
imenso na criação de um ensino secundário profissionalizante e ainda hoje há deficiências
notórias. A participação é baixa e a qualidade talvez se ressinta de não haver
padrões nacionais de avaliação e comparação. A criação do ensino pós-secundário
(CET) foi muito lenta e criou alguma ambiguidade quanto ao objetivo final de
entrada no mercado de trabalho ou de passagem a licenciatura. Finalmente, só em
2014 foi criado o ciclo curto de ensino superior, TeSP, Técnico Superior
Profissional, que está a crescer a muito bom ritmo, mas se ressente de um
grande atraso histórico. (Note-se que em Espanha, 35% dos primeiros diplomas de
ensino superior são de ciclo curto, contra 40% de licenciatura e 25% de
mestrado, segundo o Education at a Glance,
2016.)
Todos os peritos
apontam a necessidade de o sistema educativo se aproximar da realidade da vida
profissional a todos os níveis. Com o ensino obrigatório até aos 18 anos, isto
significa uma nova atenção ao perfil de formação profissionalizante da metade
dos jovens que não aspira a entrar imediatamente no ensino superior. Este é um
enorme desafio para o nosso sistema de ensino básico e secundário que há pouco
mais de 10 anos se focava quase exclusivamente num ensino de cariz académico
dirigido para o acesso ao ensino superior.
Mas, o desafio no
ensino superior não é menor. Os diplomados deixaram já de estar destinados à
administração pública e a alguns corpos profissionais autónomos (médicos,
engenheiros, etc). Com a massificação do acesso que já se aproxima dos 50% da
coorte, as instituições de ensino superior têm de assumir que o futuro dos jovens
que recebem nos seus auditórios e laboratórios será, maioritariamente, no setor
privado exercendo todo o tipo de atividade. Raramente, farão uso direto do
perfil de formação que seguiram na universidade ou no instituto politécnico.
Esta realidade é inelutável e exige da parte das instituições um repensar dos
planos de estudos e da experiência educativa proporcionada aos jovens.
Os setores da nossa
economia em crescimento mais rápido são o turismo e os serviços informáticos,
mas todos reconhecemos que não podemos deixar de insistir em estratégias de
crescimento de produção e exportação de bens (ou, numa linguagem mais moderna,
de um misto de serviço-produto). A identificação destas áreas mais dinâmicas
implica uma resposta atempada do sistema educativo onde a educação científica
tem um papel muito importante. Uma sociedade democrática próspera exige que
toda a população esteja preparada para ter um papel ativo na economia e na
sociedade; deve ainda ter a capacidade de compreender as grandes opções e a
forma de assumir as decisões que melhor acautelem o seu futuro. Só uma educação
com uma forte componente científica permite atingir estes objetivos. A Casa das
Ciências propõe-se reforçar esta cultura que leve a uma melhor compreensão do
ambiente que nos rodeia e a uma capacidade de tomar decisões mais informadas.
Referência Gomes, JANF (2017) Editorial, Rev. Ciência Elem., V5(02):015
A versão impressa ISSN 2183-9697 é enviada gratuitamente aos colaboradores regulares da Casa das Ciências e pode ser recebida pelo correio mediante o pagamento das despesas de preparação e envio, €10 para os quatro números do ano de 2017.
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